domingo, dezembro 06, 2009

Justiça distributiva



Como devem ser distribuídos os bens numa sociedade? […] Serão consideradas aqui três perspectivas-primeiro o utilitarismo, e depois as perspectivas não consequencialistas de John Rawls e Robert Nozick.
O utilitarismo clássico diz que deves maximizar o prazer em detrimento da dor. Se a nossa acção maximiza o bem, não importa se a distribuição do bem é igual ou desigual. Logo, o utilitarismo justifica em princípio um grande fosso entre ricos e pobres.
Todavia, os utilitaristas afirmam que na prática a sua perspectiva prefere uma distribuição mais igual. Considera uma pequena sociedade de ilhéus constituída por duas famílias. A família rica ganha 100 000 euros por ano e tem bens em abundância; a família pobre ganha 5 000 e confronta-se com a possibilidade de passar fome. Supõe que 2 500 euros da família rica vão para a família pobre. A família pobre beneficiaria enormemente, e a família rica dificilmente sentiria a falta desse dinheiro. A razão para isto é a diminuição da utilidade marginal do dinheiro; à medida que enriquecemos, cada euro extra faz menos diferença no nosso bem-estar. Passar de 100 000 euros para 97 500 não faz diferença, mas passar de 5 000 para 7 500 euros faz uma grande diferença. Assim, argumentam os utilitaristas, uma certa quantidade de riqueza tende a produzir mais felicidade total se for repartida mais imparcialmente. A nossa sociedade de ilhéus provavelmente maximizaria a sua felicidade total se ambas as famílias partilhassem igualitariamente a riqueza.
Apesar de parecer sensato, os não consequencialistas têm dúvidas em relação a isto. Se uma família retira mais prazer do que outra de uma certa quantidade de dinheiro, deveria por isso ter mais dinheiro (uma vez que isto maximizaria o prazer total)? Será isso justo? E mesmo que o utilitarismo conduza a juízos correctos sobre a igualdade, será que o faz pelas razões certas? É a igualdade boa, não em si, mas meramente porque produz o maior total de felicidade?
John Rawls propôs uma influente abordagem não consequencialista à justiça. Como podemos decidir o que é justo? Rawls sugere que a pergunta a fazer é esta: que regras mereceriam o nosso acordo em certas condições hipotéticas (a posição original)? Imagina que somos livres, lúcidos e conhecemos todos os factos relevantes — mas não conhecemos o nosso lugar na sociedade (se somos ricos ou pobres, negros ou brancos, de sexo feminino ou masculino). A limitação do conhecimento tem o objectivo de assegurar a imparcialidade. Por exemplo, se não sabemos qual é a nossa raça, não podemos manipular as regras para favorecer uma raça e prejudicar outras. As regras de justiça são as regras que mereceriam o nosso acordo nestas condições de imparcialidade.
Que regras mereceriam o nosso acordo na posição original? Rawls argumenta que escolheríamos estes dois princípios básicos de justiça (e cuja formulação simplifiquei):
Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a maior liberdade para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros.
Princípio da diferença: A sociedade deve promover uma distribuição igual de riqueza, excepto se as desigualdades servirem como incentivo para benefício de todos (incluindo os menos favorecidos) e estiverem abertas a todos numa base igual.
O princípio da liberdade igual assegura coisas como liberdade de religião e liberdade de expressão. Rawls diz que tais direitos não podem ser violados a favor da utilidade social. O princípio da diferença é acerca da distribuição de riqueza. Na posição original poderíamos sentir-nos atraídos pela perspectiva igualitária segundo a qual todos deveriam ter exactamente a mesma riqueza. Mas desse modo a sociedade estagnaria, uma vez que as pessoas teriam poucos incentivos para fazerem coisas difíceis (como tornarem-se médicos ou inventores) que acabam por beneficiar todas as pessoas. Por isso, preferiríamos uma regra que permite incentivos.
De uma maneira geral, todos teriam a mesma riqueza numa sociedade rawlsiana — excepto para desigualdades (como pagar mais a médicos) que são justificadas como incentivos que acabam por beneficiar todas as pessoas, e que estão abertas a todos numa base igual.
Robert Nozick é o crítico mais duro do princípio da diferença de Rawls. A perspectiva que propõe é a da titularidade das posses justas. Esta perspectiva diz que tudo o que ganhas honestamente através do teu esforço e de acordos justos é teu. Se alguém ganhou legitimamente o que tem, então a distribuição que daí resulta é justa — independentemente de poder ser desigual. Ainda que outros tenham muito menos, ninguém tem o direito de se apropriar das tuas posses. Esquemas (como taxas diferenciadas de impostos) que forçam a redistribuição de riqueza são errados porque violam o teu direito à propriedade. Roubam o que é teu para dar a outros.
Quanto devem ganhar os médicos? Segundo Nozick, devem ganhar seja o que for que ganhem legitimamente. Numa sociedade podem ganhar praticamente o mesmo que qualquer outra pessoa; noutra, podem ganhar grandes somas de dinheiro. Nos dois casos, são titulares do que ganham — e qualquer esquema que lhes retire os seus ganhos para ajudar outros é injusto.
Que perspectiva devemos preferir, a de Rawls ou a de Nozick? Se apelarmos a intuições morais, ficaremos num impasse; as intuições liberais estão de acordo com Rawls, enquanto as intuições libertárias estão de acordo com Nozick. Contudo, eu afirmaria que a consistência racional favorece algo de parecido com a perspectiva de Rawls. Imagina uma sociedade organizada segundo a concepção de mercado livre de Nozick e na qual, depois de várias gerações, há um grande fosso entre ricos e pobres. Aqueles que nasceram numa família rica são ricos, e aqueles que nasceram numa família pobre sujeitam-se a uma pobreza que não podem vencer. Imagina que tu e a tua família sofrem desta pobreza. Se estiveres nesta situação, poderás desejar que os princípios de Nozick sejam seguidos?

Harry Gensler
John Carroll University, Cleveland, USA

Tradução de Faustino Vaz
Extraído de Ethics: A contemporary introduction, de Harry Gensler (Routledge, 1998)

terça-feira, dezembro 01, 2009

Da incoerência de nossas ações


Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não parecem provir de um mesmo indivíduo. Mário, o Jovem, ora parece filho de Marte ora filho de Vênus. Dizem que o Papa Bonifácio VII assumiu o papado como uma raposa, conduziu-se como um leão e morreu como um cão. E quem diria que Nero, essa verdadeira imagem da crueldade, como lhe apresentassem para ser assinada, de acordo com a lei, a sentença contra um criminoso, observou: – Prouvera a Deus que eu não soubesse escrever! – tanto lhe apertava o coração condenar um homem à morte. Há tantos exemplos semelhantes, e tão facilmente os encontrará sozinho quem quiser, que estranho ver por vezes gente de bom senso procurando juntar tais contradições, mesmo porque a irresolução me parece ser o vício mais comum e evidente de nossa natureza, como o atesta este verso de Públio, o satírico: “Má opinião, a de que não se pode mais mudar.”
É aparentemente possível julgar um homem pelos fatos mais comuns de sua vida; mas, dada a instabilidade natural de nossos costumes e opiniões, pareceu-me muitas vezes que os melhores autores erravam em se obstinar a dar de alguém uma idéia bem assentada e lógica. Adotam um princípio geral e de acordo com este ordenam e interpretam as ações, tomando o partido de as dissimular quando não as deformam para que entrem dentro do molde preconcebido. O imperador Augusto escapou-lhes; deparamos nesse homem com uma tal flagrante diversidade de ações, tão inesperada e contínua no decurso de sua existência, que os mais ousados juízes, renunciando a julgá-lo em seu conjunto, tiveram de deixá-lo assim indefinido. Acredito que a constância seja a qualidade mais difícil de se encontrar no homem, e a mais fácil a inconstância. Quem os julgasse pormenorizadamente de acordo com seus atos, um por um, estaria mais apto a dizer a verdade a seu respeito.
Fora difícil encontrar em toda a antigüidade uma dúzia de homens que tenham orientado sua vida em obediência a determinado princípio, o que é o fim principal da sabedoria. A qual, segundo um autor antigo [Sêneca], se resume em uma frase que enfeixa, em uma só, todas as regras da vida: “querer e não querer são sempre a mesma e a única coisa”. E poderia acrescentar: à condição de que o que queremos ou não queremos seja justo, pois, se não o é, impossível se faz que permaneça constantemente a mesma coisa. Efetivamente, sei de há muito que o vício nada mais é senão desregramento e falta de medida e por conseguinte não o podemos imaginar constante. Atribui-se a Demóstenes a seguinte máxima: a virtude, qualquer que seja, consiste de início em recolhimento e deliberação; a constância, a seguir, comprova-lhe a perfeição. Em refletindo seguimos sempre o melhor caminho, mas ninguém pensa antes de agir. “Desdenha o que pediu, volta ao que largou e, sempre hesitante, contradiz-se sem cessar” (Horácio).
Nossa maneira habitual de fazer está em seguir os nossos impulsos instintivos para a direita ou para a esquerda, para cima ou para baixo, segundo as circunstâncias. Só pensamos no que queremos no próprio instante em que o queremos, e mudamos de vontade como muda de cor o camaleão. O que nos propomos em dado momento, mudamos em seguida e voltamos atrás, e tudo não passa de oscilação e inconstância. “Somos conduzidos como títeres que o fio manobra” (Horácio).
Não vamos, somos levados como objetos que flutuam, ora devagar, ora com violência, segundo o vento: “Acaso não vemos todo mundo indeciso; uns procurando sem descontinuar, outros mudando de lugar, como para largar uma carga pesada demais?”(Lucrécio). Cada dia nova fantasia, e movem-se as nossas paixões de acordo com o tempo: “o pensamento dos homens assemelha-se na terra aos cambiantes raios de luz com que Júpiter a fecunda”(Cícero).
Hesitamos em tomar partido; nada decidimos livremente, de maneira absoluta, coerente. Se alguém traçasse e estabelecesse determinadas leis de conduta e regime político de vida, veríamos brilhar em seus atos e atitudes uma harmonia cabal e em seus costumes uma ordem e uma correlação evidentes. Empédocles observa a seguinte contradição entre os agrigentinos: alguns se entregam aos prazeres como se devessem morrer no dia seguinte e outros edificam como se a vida não tivesse de acabar jamais. O plano de vida fora entretanto fácil de se estabelecer, como se vê em Catão, o Jovem: quem nele toca uma tecla, toca todas, pois há nele uma harmonia de sons bem afinados que nunca se entrechocam. Não seguimos, nós outros, tão sábio exemplo e cada uma de nossas ações decorre de um juízo específico. E na minha opinião seria melhor procurar-lhes as causas nas circunstâncias do momento sem mais aprofundada pesquisa e sem tirar delas quaisquer conseqüências.
Durante as desordens que agitaram nosso pobre país, disseram-me que uma jovem, bem perto do local onde eu me encontrava, se jogara pela janela a fim de escapar à brutalidade de um soldado que hospedava. Não teve morte instantânea e para se acabar tentou cortar o pescoço com uma faca, o que não a deixaram fazer. Nesse triste estado, confessou que o soldado nada mais fizera do que lhe declarar seu amor, solicitá-la e presenteá-la, mas ela temera que chegasse a violentá-la. Daí seus gritos, sua atitude, o sangue derramado, como se se tratasse de uma nova Lucrécia. Entretanto, eu soube que antes e depois dessa ocorrência sempre se mostrou muito menos arisca. Como dizem por aí, “por mais belo e decente que sejas, se não és aceito pela tua amada, não concluas, sem mais amplas informações, ser ela de uma castidade a toda prova; isso não impede que o arrieiro tenha a sua possibilidade”.
Antígono, que se afeiçoara a um de seus soldados por causa de sua valentia e coragem, mandou que o médico tratasse de uma doença que o atormentava havia muito. Observando, após a cura, que o homem se expunha muito menos nos combates, perguntou qual a razão dessa mudança que o tornara poltrão: “Vós mesmo, Sire, porquanto me libertastes dos males que faziam com que eu não apreciasse a vida.”
Um soldado de Luculo fora roubado pelo inimigo. Para se vingar executou contra ele um golpe de mão notável, amplamente compensador de seus prejuízos. Luculo que ficara com excelente opinião dele quis empregá-lo em uma arriscada expedição e, afim de decidi-lo, usava todos os meios de persuasão, “com palavras capazes de entusiasmar os mais tímidos”(Horácio). Mas o soldado atalhou: “Mandai algum soldado miserável que tenha sido roubado.” E recusou peremptoriamente. Como diz Horácio: “Irá quem tiver perdido a bolsa.”
Maomé II admoestara violentamente Chasan, chefe de seus janízaros cuja tropa fora desfeita pelos húngaros, sendo que se conduzira ele próprio covardemente durante o combate. Como única resposta, Chasan, sozinho, sem precisar de ninguém, precipitou-se furioso, espada na mão, contra o primeiro pelotão inimigo que percebeu e desapareceu em poucos instantes como se fora por ele tragado. Nesse ato, parece que foi movido menos pelo desejo de se reabilitar do que em virtude de uma reviravolta em seus sentimentos: Não agia sob o impulso da coragem moral e sim por despeito. Quem ontem vistes tão temerário, não vos espanteis em vê-lo poltrão no dia seguinte. A cólera, a necessidade, a companhia ou o vinho, ou o som de uma trombeta, terão feito de suas tripas coração. Não foi o raciocínio que lhe deu coragem: foram as circunstâncias. Não nos espantemos, pois, de ver que mudou ao mudarem elas. Essa variação e essa contradição, tão comuns em nós, levaram muitas pessoas a pensar que possuímos duas almas, ou duas forças que atuam cada qual num sentido, uma no sentido do bem e outra no do mal. Uma só alma e uma só força não poderiam conciliar-se com tão repentinas variações de sentimentos.
Não somente o vento dos acontecimentos me agita conforme o rumo de onde vem, como eu mesmo me agito e perturbo em conseqüência da instabilidade da posição em que esteja. Quem se examina de perto raramente se vê duas vezes no mesmo estado. Dou à minha alma ora um aspecto, ora outro, segundo o lado para o qual me volto. Se falo de mim de diversas maneiras é porque me olho de diferentes modos. Todas as contradições em mim se deparam, no fundo como na forma. Envergonhado, insolente, casto, libidinoso, tagarela, taciturno, trabalhador, requintado, engenhoso, tolo, aborrecido, complacente, mentiroso, sincero, sábio, ignorante, liberal e avarento, e pródigo, assim me vejo de acordo com cada mudança que se opera em mim. E quem quer que se estude atentamente reconhecerá igualmente em si, e até em seu julgamento, essa mesma volubilidade, essa mesma discordância. Não posso aplicar a mim um juízo completo, sólido, sem confusão nem mistura, nem o exprimir com uma só palavra. “Distingo” é o termo mais encontradiço em meu raciocínio.
Embora acredite sempre que é preciso falar bem do que é justo e interpretar com simpatia o que a tal juízo se presta, nossa condição é tão singular que não raro o próprio vício nos impele a bem fazer (se o bem não se julgasse unicamente pela intenção que o determina). Daí não se dever tirar de um ato corajoso a conclusão de que um valente o praticou. Valente será efetivamente quem o for sempre em todas as ocasiões. Se fosse um hábito e não u gesto imprevisto, a virtude faria que um homem mostrasse sempre igual resolução; seria o mesmo, só ou acompanhado, na justa como no campo de batalha. Suportaria esse homem, com igual atitude uma enfermidade em seu leito e um ferimento na guerra e não temeria mais a marte em seu lar do que em um assalto. Não o veríamos lançar-se através de uma brecha com insopitável bravura e em seguida chorar como uma mulher a perda de um processo ou de um filho; ser covarde diante da infâmia e resoluto na miséria, ter medo da navalha do barbeiro e desafiar a espada do adversário. Em tais casos, a ação é louvável, não o homem. Há gregos, diz Cícero, que tremem à vista do inimigo e se mostram tenazes quando enfermos, e tem-se o inverso nos cimbros e nos celtiberos: “Nada pode ser estável se não parte de um princípio sólido”(Cícero).
Não há maior valentia, no gênero, do que a de Alexandre, o Grande, e no entanto não se verifica em tudo. Por incomparável que seja, tem suas falhas, o que o faz perturbar-se à mais insignificante suspeita de conjuras e o leva a incrível e absurda crueldade na repressão e a temores em nada compatíveis com sua apreciação habitual das coisas. A superstição que lhe era peculiar participa também da pusilanimidade, e a exagerada penitência que se impõe a si mesmo após o assassínio de Clito prova igualmente a desigualdade de sua coragem. Somos um amontoado de peças juntadas inarmonicamente e queremos que nos honrem quando não o merecemos. A virtude vale por si mesma; se para outro fim tomamos a sua máscara, logo ela no-la arranca da cara. Quando nossa alma se impregna dela, forma ela uma espécie de verniz fortemente adesivo que só se tira com a própria pele. Eis por que para julgar um homem é preciso seguir suas pegadas, penetrar sua vida, e se não deparamos com a constância alicerçando seus atos, “com um plano de vida bem ponderado e previsto”(Cícero), se sua marcha, ou antes, seu caminho (pois é lícito acelerar ou diminuir o passo) se modifica segundo as circunstâncias, abandonemo-lo. Como a ventoinha gira de acordo com o vento, assim reza a divisa de nosso Talbot.
Não é de espantar, diz um autor antigo, que o acaso tenha tanta força sobre nós, pois por causa dele é que existimos. Quem não orientou sua vida, de um modo geral, em determinado sentido, não pode tampouco dirigir suas ações. Não tendo tido nunca uma linha de conduta, não lhe será possível coordenar e ligar uns aos outros os atos de sua existência. De que serve fazer provisão de tintas se não se sabe que pintar? Ninguém determina do princípio ao fim o caminho que pretende seguir na vida; só nos decidimos por trechos, na medida em que vamos avançando. O archeiro precisa antes escolher o alvo; só então prepara o arco e a flecha e executa os movimentos necessários; nossas resoluções se perdem porque não temos um objetivo determinado. O vento nunca é favorável a quem não têm um porto de chegada previsto. Não estou de acordo com o juízo que se fez, ao assistir a uma tragédia de Sófocles, declarando-o, contra a opinião de seu filho, capaz de administrar seus bens. Não acho tampouco muito mais lógico o que fizeram os párias enviados com missão de reformar o governo dos milésios. Depois de visitar a ilha, observando o cultivo cuidadoso da terra, a boa ordem das propriedades, e registrando os nomes dos proprietários, considerando que a atenção e a eficiência demonstradas na administração de seus negócios particulares eram uma garantia de que de igual modo iam gerir os negócios do Estado.
Somos todos constituídos de peças e pedaços juntados de maneira casual e diversa, e cada peça funciona independentemente das demais. Daí ser tão grande a diferença entre nós mesmos quanto entre nós e outrem: “Crede-me, não é coisa fácil conduzir-se como um só homem”(Sêneca). Se a ambição pode impelir o homem a ser valente, sóbrio, liberal e mesmo justo, se a avareza pode dar coragem a um caixeiro criado no ócio e na indolência e infundir-lhe bastante confiança para que se lance à aventura em frágil navio, à mercê de Netuno, e lhe ensina a discrição e a prudência; se a própria Vênus arma de resolução a audácia o jovem ainda sob a autoridade paterna, e faz com que se mostre impudica a virgem de coração terno ainda sob a égide de sua mãe:
“Passando furtivamente entre os guardas que dormem, protegida por Vênus, vai a jovem sozinha, dentro da noite, juntar-se a seu amante”(Tibulo), se assim é, não deve um espírito refletido julgar-nos pelos nossos atos exteriores; cumpre-lhe sondar as nossas consciências e ver os móveis a que obedecemos. É uma tarefa elevada e difícil e desejaria por isso mesmo que menor número de pessoas se dedicassem a ela.


Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)
(In: Ensaios, Michel de Montaigne; tradução de Sérgio Milliet, 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980, pp. 159-162)

quinta-feira, novembro 26, 2009

O Inconsciente



Sobretudo na psicanálise que se associa propriamente a Freud, termo empregado para se referir a processos psíquicos eficazes, porém, despercebidos. A suposição desse tipo de processo define a psicologia em sua profundidade. Os antecedentes da suposição dos acontecimentos e energias psíquicas inconscientes, ou mentais, passam pela medicina arcaica sobre a teoria da reminiscência (Anamnesis) de Platão, as práticas psicoterapêuticas da filosofia antiga, as idéias acerca da obsessão na baixa Idade Média e nos primórdios da Modernidade, a doutrina das percepções invisíveis na teoria das mônadas e na teoria do conhecimento de Leibniz, até a Psiquiatria dinâmica da segunda metade do sec. XVIII (Gassner, Mesmer). Carus introduziu em 1846 o conceito de inconsciente na Filosofia. Para ele - ligando os conceitos românticos, especialmente na filosofia natural e Medicina -, a vida mental humana é essencialmente determinada por um inconsciente ativo e um inativo. Hartmann - ligando Schelling e Schopenhauer - reúne igualmente um conceito de inconsciente cosmológico-filosófico-natural (inconsciente absoluto) com o conceito de um inconsciente psíquico (inconsciente relativo). Ele considerou o processo cósmico como uma evolução da consciência do inconsciente pensado metafisicamente; o inconsciente psíquico age na consciência segundo leis naturais. No princípio filosófico proposto por Lipps, o 'inconsciente' é o dado psíquico genuinamente real. Lipps distinguiu o inconsciente ativo do inativo, este último sem qualquer centralização do ego. Ele introduz a dinâmica dos processos inconscientes e distingue as excitações mentais inconscientes - sua natureza inteiramente desconhecida -, das representações psíquicas inerentes ao consciente. Seu discípulo Geiger mostrou, a partir de uma perspectiva fenomenológica, que o desejo, enquanto fenômeno global em si já está indicado na realidade imanente da instância inconsciente. Disposições da memória e outras construções psíquicas, segundo Geiger, já estão sem dúvida centralizadas no ego, embora a princípio inativas.
A teoria freudiana do inconsciente reúne um interesse psicológico-prático e um epistemológico-metapsicológico. A memória, as recordações, as lacunas na vida do consciente, os atos falhos, as piadas, os sonhos e as experiências com hipnose deram ocasião à suposição de uma dimensão inconsciente e pré-consciente da vida psíquica. Na medida em que se reduz geneticamente às repressões da tenra infância e à memória infantil dos conteúdos da consciência de natureza eminentemente sexual, este inconsciente é responsável pelo surgimento das doenças neuróticas. No processo psicanalítico (anamnese, resistência, transferência, etc.), através do emprego de determinadas técnicas e através do aproveitamento de acontecimentos que sempre se repetem, tenta-se obter acesso a representações submetidas ao deslocamento e à condensação. Tenta-se também recordar tais representações com a energia psíquica colocada, a fim de remover, desse modo, o sintoma neurótico. Com sua metapsicologia, Freud reúne, além do objetivo terapêutico, o interesse de estabelecer a psicanálise como ciência. Ele distinguiu topicamente as instâncias psíquicas do inconsciente, do pré-consciente e do consciente; então, ele distinguiu as do id, do ego consciente e do superego que congrega as representações sociais. Ela recebe em sua concorrência dinâmica uma sobre a outra e faz o balanço energético a respeito daqueles processos psíquicos que se encontram sob o domínio do princípio do prazer e do desprazer (posteriormente também a pulsão da morte). As suposições metapsicológicas constituir-se-ão como hipóteses científicas que têm de se sujeitar à revisão crítica. Freud defendeu continuamente a tese de que a psicologia é uma ciência natural e que, conseqüentemente, a psiqué é regulada por um inconsciente eficaz somático e regular, acerca do qual é vedado todo conhecimento. - Freud empregou sua teoria do inconsciente também em sua teoria cultural, provavelmente influenciado pela doutrina de Jung sobre o inconsciente coletivo hereditário (arquétipo).

In Mittelstraß, J. (org.)(1996): Enzyklopädie Philosophie und Wissenschaftstheorie, Stuttgart: Verlag J. B. Metzler, vol. 4, pgs. 386-387 (tradução de Marco Antonio Franciotti).

quinta-feira, novembro 19, 2009

19 de novembro - Dia Mundial da Filosofia



Em 2002 a Unesco, numa bela manifestação de reconhecimento, instituiu o “Dia Mundial da Filosofia”. Foi decretado, então, que na terceira quinta-feira do mês de novembro, em cada ano, comemorar-se-ia esse dia. Para nós, aqui no Brasil, nesse ano de 2009 o Dia Mundial da Filosofia é lembrado às vésperas do Dia da Consciência Negra. Aí estão, creio, dois grandes temas para se pensar e, sobretudo, agir. Por dever de ofício, reporto-me, nestas linhas, apenas ao Dia Mundial da Filosofia.
A sociedade moderna, salvo alguns redutos muito específicos – as academias – marginalizou a Filosofia e o filosofar. As situações do cotidiano, da vida, os problemas, a educação, a economia, a política... não têm recorrido à Filosofia para seu diagnóstico. O que se percebe, pelo contrário, é uma incessante luta para desqualificá-la. A sociedade pragmática, consumista e tecnocrata criou a escola tecnicista e autoritária que baniu a Filosofia dos currículos, expurgando-a das escolas. A ordem, hoje, é produzir uma massa passiva, homens sem consciência, mão de obra dócil à implantação e solidificação de um modo de produção mais preocupado com o capital do que com o próprio ser humano. Assim, o interesse em promover o gosto pela filosofia é praticamente nulo. Para reverter este quadro é necessário mais do que simplesmente rever os juízos sobre os quais a consciência é postulada, é necessário rever as relações de poder e, mais do que isso, bem preparar os acadêmicos dos cursos universitários. No caso específico da Filosofia, acredito que ela tem uma contribuição significativa neste processo, pois faz-se presente em praticamente todos os cursos de licenciatura das universidades.
Por outro lado, deve-se ter presente que a Filosofia é um conjunto de conhecimentos que tem por função primeira repensar, discutir e analisar a arte, a política, a religião, as ciências... Ela deve compreender no conceito seu tempo e a sociedade em que vive. A filosofia se constitui no movimento que se recusa a aceitar a realidade imediata para transformá-la numa realidade pensada, compreendida no conceito. Contudo, definir a tarefa da Filosofia simplesmente como “pensar o seu tempo” pode induzir ao equívoco de pôr a etiqueta famosa da filosofia sobre qualquer reflexão acerca de objetos e fenômenos da época. Não podemos, como bem alertou o jovem Marx em 1842, transformar a filosofia em “reportagem jornalística”. Mas para que isso não ocorra devemos oferecer as condições para que alunos e professores investiguem de fato, obedecendo o método próprio da Filosofia. E para isso, é mister incentivá-los à pesquisa e ao ensino, conforme suas peculiaridades.
O que importa, entretanto, é que independente do modo de se compreender a Filosofia, a cada instante somos solicitados e desafiados por novos problemas e situações. A Filosofia visa a descobrir, nestes problemas e situações, uma finalidade: a realização humana pessoal e social no tempo. Esta deve ser a busca concreta do filósofo. Ao mesmo tempo, cabe-lhe a tarefa da denúncia dos entraves ideológicos, políticos e culturais que desviam as pessoas do movimento da justiça, da liberdade e da sociabilidade humanas. O modo de fazer Filosofia nunca pode se dar por completo, nunca pode dogmatizar-se, isso porque ele é histórico e deve acompanhar o movimento e a emergência de novas situações culturais e históricas. Esta forma de filosofar não é trabalho para um mestre solitário, mas exige a participação de muitos estudiosos, atentos ao caminhar das ciências e da experiência sociocultural da comunidade. É por isso que a pesquisa e a biblioteca se constituem em um momento privilegiado do filosofar.
Que esse 19 de novembro, Dia Internacional da Filosofia, possa ser entendido além de um dia de júbilo e festas, como um dia em que a humanidade de fato se pergunte sobre o “ser humano” da própria humanidade.


Renato Nunes/Professor, coord. Curso de Filosofia - Unisc

quarta-feira, novembro 18, 2009

TEIMOSIA

UM CASO DE TEIMOSIA
De Romano Dazzi

A velha senhora chegou de surpresa e:
-Vamos! – ordenou. – Estou com pressa!
José levantou lentamente a cabeça, olhou para um lado, olhou para o outro, largou o sapato que estava reformando e:
- É comigo? - perguntou com falsa inocência.
- Sim, meu lindo, é com você mesmo! Vamos!
- Não senhora – respondeu calmamente o José – Não vou, não.
- Como, não? Que novidade é essa? Estou mandando; vamos!
- Já disse que não vou e não vou. Pronto. Não vou a lugar nenhum - repetiu o José, agora com ar desafiador.
- Como se permite recusar? Você sabe quem eu sou?
- Sei, sim senhora.
- Então vamos ...Vamos embora!
Mas o José continuava firme, sacudindo a cabeça, recusando-se terminantemente a negociar:
- Quantas vezes tenho que repetir que não vou? Você é surda? Você não manda em mim! Volte outra hora!, Volte quando o trigo estiver maduro! E não me aborreça! – protestou decidido..
A velha senhora ficou confusa.
Nunca tinha sido maltratada assim.
Todos tinham por ela pelo menos um grande respeito, mesmo que não se tratasse, propriamente, de consideração; muitos a tinham chamado, em um momento qualquer da vida, pedindo-lhe que viesse resolver algum problema grave. Mas ela não atendia assim, facilmente. Só vinha quando queria.
Pensando bem, ela não conseguia lembrar de ninguém que não tivesse recorrido a ela, mais cedo ou mais tarde.
Mas este José, arrogante, orgulhoso, senhor sabe tudo, era o cúmulo da falta de respeito!
Ela reconhecia não ser uma figura simpática, agradável; a idade, os modos, a forma de aparecer, quase sempre de surpresa, com uma impressionante falta de “timing”, eram mais que criticáveis: eram chocantes.
Mas enfim, no mundo não existem somente pessoas jovens, bonitas e simpáticas. E todos acabam encontrando o seu lugar.
A velha senhora sabia, no fundo, que o José tinha razão; só não queria dar o braço a torcer. Teimosia, por teimosia.
Na sua função, às vezes era chamada a trabalhar duramente, sem descanso, em lugares os mais diversos e disparatados. Frequentemente tinha que correr de um lado para outro sem poder descansar um instante.
Assim, nas raras ocasiões em que o serviço arrefecia, tentava pôr em dia suas tarefas, apressando um pouco o tempo.
É por isso, que tinha chegado ao encontro com o José antes da hora. Mas era só uma questão de poucos anos, nada que fizesse uma grande diferença, diante da eternidade.
Porém, esse era um homem teimoso – e mal educado. Neste momento, ela o odiava. Ah, se pudesse..Mordeu o lábio, arrependida do mau pensamento.
Passaram-se alguns minutos.
Tanto ela quanto o José estavam reconsiderando e procurando colocar panos quentes na situação.
- Velho maluco! – comentou a Senhora, com uma expressão vaga, a esconder uma leve nuance de simpatia – então, você quer ganhar todas, não?
José também desfez a carranca, baixando a guarda e colocando de lado os sapatos consertados.
- Esta tenho que ganhar – comentou aliviado – e você não perde muita coisa, esperando um pouco para me levar...
- Sabe José, no fundo eu gosto de lutadores, gosto de quem resiste e não se dobra e – mesmo sabendo que no fim perderá - me olha firme nos olhos e me desafia. Este apego à vida é uma das melhores qualidades do Homem.
Mas chega de papo; já estou muito atrasada. Acerte o seu relógio, José!
Daqui a trinta anos, dois meses e vinte e um dias, volto para te levar. Adeus!
- Bom, resmungou o José – sou um dos poucos que têm o azar de saber o dia certo em que vão morrer! Até lá, não me preocupo.
Retomou nas mãos o par de sapatos, observou-o com atenção e carinho e comentou: Bom serviço, José! Eu sei mesmo fazer um bom trabalho .....
Passaram-se exatamente 11 039 dias; José já estava bem maduro, cansado por uma longa vida, por muitas lutas, por muitas solas consertadas; sabia que não duraria muito e aguardava o momento com certa impaciência.
Mas era um teimoso incorrigível.
Durante todo o tempo que lhe sobrara, pensava numa forma de enganar a velha, mesmo que fosse para ganhar só alguns instantes.
Assim, quando amanheceu aquele que deveria ser o seu último dia, saiu de casa cedinho, com uma máscara imitando uma caveira e vestindo uma roupa usada e rasgada como a que tinha visto a velha senhora usar.
Era tempo de carnaval e ninguém estranharia o disfarce; às costas, levava uma foice, igualzinha às das cartas de tarô.
Chegando na cidade próxima, porém, viu-se, de repente, cara a cara com outro José; igualzinho, roupa surrada, sapatos impecáveis.
E este José, mostrando-se surpreso e apavorado, começou a gritar:
“É a Morte! Olha a Morte aí! É a Morte! É a Morte! Mata! Mata! Mata ela!”...
Juntou muita gente, cada um com seu medo e sua coragem;
Quando o homem está só, o medo domina-o facilmente. Mas quando está com outros, sua coragem multiplica-se. Chama-se “covardia”
Assim, todos pularam sobre o pobre José, com seu inútil disfarce, sem dar-lhe nenhuma chance. Em cinco minutos, acabaram com ele.
Então a morte, retomando suas feições e rindo como só ela sabe fazer, pegou sua alma e o levou.

Moral: Pode-se enganar todos, a vida toda; mas há um momento em que não podemos enganar ninguém, e muito menos, nós mesmos. Temos que reconhecer este momento e aceitá-lo, com coragem.
É a única maneira bonita de morrer.

domingo, novembro 15, 2009

Zumbi dos Palmares o heroi Brasileiro


Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.
Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.
No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após um batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados.
Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares.
O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695.
Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra.

sábado, novembro 14, 2009

ACETILCRISTOVAMCOLINA/ 2000 PARA MEMORIA



Internacionalização da Amazônia

Durante debate ocorrido no mês de Novembro/2000, em uma Universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristovam Buarque (PT), hoje (PTB ), foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Segundo Cristovam, foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para a sua resposta:
"De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo e risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado
Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país.
Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Manhattan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveriam pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida.
Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa."

(*) Cristóvam Buarque foi governador do Distrito Federal (PT) e reitor da Universidade de Brasília (UnB), nos anos 90. É palestrante e humanista respeitado mundialmente.

É UM PÁSSARO, UM HOMEM, UM AVIÃO? NÃO É O BARACK OBAMA


É UM PÁSSARO, UM HOMEM, UM AVIÃO? NÃO É O BARACK OBAMA
Posted by Blog da redação in reflexão

Nunca em toda a história da humanidade falou tanto na posse de um presidente como esse. Embora essa frase anterior seja marca registrada do presidente Lula, ela pode ser aplicada, com muita propriedade na posse do homem mais poderoso do mundo. O novo presidente dos Estados Unidos se tornou um Super-Homem, não no sentido nietzschiano, e sim no hollywoodiano e norte-americano.
Vimos, lemos e ouvimos sua trajetória política nos meios de comunicações de massa. Ele é a grande aposta para mudança mundial. Veja o que disse o presidente Francês Nicolas Sarkozy: “Nós estamos ansiosos que ele comece a trabalhar para que, com ele, nós possamos mudar o mundo”; e o primeiro ministro de Israel, Ehud Olmert, enfatizou: “Obama mobilizou uma grande quantidade de boa vontade e apoio em todos os setores da sociedade”. Promessa de mudança de mundo, aberto ao diálogo e promotor da paz universal (pax romana). Será que esses líderes acreditam nele (Obama), ou estão fazendo a política da boa vizinhança?
Tenho minhas ressalvas quanto a ele (Barack), ele não governará sozinho, e fez muita promessa, falou muito, tem um adágio popular que diz “Quem muito fala, pouco acerta.” Ele não decidirá tudo sozinho, terá um  senado opositor e decisivo, por exemplo. Para solucionar a crise econômica que assola o país ele precisará do apoio dos congressistas opositores. Não podemos nos esquecer da forte indústria bélica que gera cifras enormes para a economia do país.
Eles (industriais bélicos) não se alegrarão muito com o cessar fogo (em alguns países em guerra), pois deixarão de ganhar, e farão pressão popular contra o final da guerra do Iraque (para que ela não finde). Obama prometeu o fim dessa Guerra na campanha eleitoral. Não devemos esquecer que o EUA e os norte-americanos respiram o ar ideológico do projeto neoliberal, sistema econômico que reduz tudo a lei do mercado e do lucro.
No neoliberalismo vale pelo que produz. O detrimento dos enriquecimentos de poucos, culmina no empobrecimento de muitos. Nesse sistema, pouco importa as pessoas, se a natureza esta sendo agredida ou se a violência e as guerras estão aumentando. Como as indústrias enfrentarão mudanças nas políticas ambientais, medidas que os norte-americanos acham nocivas para o desenvolvimento econômico? Penso que Obama tem boa índole, proposta política, retórica e abertura ao diálogo, mas será impedido por forças maiores. Ele é apenas uma peça do quebra cabeça, e não o jogo inteiro, como alguns pensam.
Termino esse citando Hobbes “Homo homini lupus - o homem é o lobo do homem” ele mesmo fez a afirmação contudente “Bellum omnium contra omnes”, é a guerra de todos contra todos.
Será que o novo presidente seguirá essa lógica hobbineana? Ou não apregoará a paz entre os seres humanos e nações. Será que Obama conseguirá conduzir a bandeira da etica, cidadania, honestidade e fraternindade? Numa situação tão adversa?

blogprofessordefilo.blogspot.com

sexta-feira, novembro 13, 2009

Como a ciência evolui?

Como a ciência evolui?



1. O objetivo da ciência

Sugiro que o objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias para aquilo que consideramos precisar de uma explicação. Por explicação (ou explicação causal) entendo um conjunto de enunciados em que uns descrevem o estado de coisas a ser explicado (o explicandum) enquanto que os outros, os enunciados explicativos, formam a “explicação” no sentido estrito da palavra (o explicans do explicandum).
A questão “Que tipo de explicação pode ser satisfatória?” conduz à seguinte resposta: uma explicação em termos de leis universais falsificáveis e testáveis e de condições iniciais. E uma explicação deste tipo será mais satisfatória quanto mais testáveis forem essas leis e quanto melhor tiverem sido testadas. (Isto também se aplica às condições iniciais.)
Desta maneira, a conjectura de que o objetivo da ciência é encontrar explicações satisfatórias conduz-nos à idéia de melhorar o grau com que as explicações são satisfatórias melhorando o seu grau de testabilidade; isto significa avançar para teorias com um conteúdo cada vez mais rico e com graus de universalidade e de precisão cada vez mais elevados. Isto está, sem dúvida, inteiramente de acordo com a prática efetiva das ciências teóricas.
Podemos chegar fundamentalmente ao mesmo resultado também de outra maneira. Se o objetivo da ciência é explicar, então é também seu objetivo explicar o que até aqui foi aceito como explicans; por exemplo, uma lei da natureza. Deste modo, o objetivo da ciência renova-se constantemente a si próprio. Podemos prosseguir para sempre, avançando para explicações com um nível de universalidade cada vez mais elevado.


2. Profundidade

Sugiro que as nossas leis ou as nossas teorias devem ser universais, isto é, devem fazer asserções sobre o mundo – sobre todas as regiões espaço-temporais do mundo. Sugiro, para além disso, que as nossas teorias fazem asserções sobre propriedades estruturais ou relacionais do mundo, e que as propriedades descritas numa teoria explicativa devem ser, em algum sentido, mais profundas do que aquelas a explicar. Acredito que esta expressão, “mais profundas”, resiste a qualquer tentativa de análise lógica exaustiva, mas ainda assim é um guia para as nossas intuições.
No entanto, parece haver uma espécie de condição suficiente para a profundidade, ou para graus de profundidade, que pode ser logicamente analisada. Vou tentar explicar isto com a ajuda de um exemplo da história da ciência.
É do conhecimento geral que a dinâmica de Newton realizou uma unificação da física terrestre de Galileu e da física celeste de Kepler. Diz-se frequentemente que a dinâmica de Newton pode ser induzida a partir das leis de Galileu e de Kepler, e chegou-se mesmo a dizer que pode ser estritamente deduzida a partir delas. Mas isto não é verdade; de um ponto de vista lógico, a teoria de Newton em rigor contradiz tanto a teoria de Galileu como a de Kepler (embora, obviamente, estas últimas teorias possam ser obtidas como aproximações logo que tenhamos à nossa disposição a teoria de Newton). Por esta razão, é impossível derivar a teoria de Newton a partir da de Galileu, da de Kepler ou de ambas, seja por dedução ou por indução, pois nem uma inferência dedutiva, nem uma inferência indutiva, pode avançar de premissas consistentes para uma conclusão que contradiz formalmente as premissas de que partimos.


É importante notar que das teorias de Galileu ou de Kepler não obtemos o menor indício sobre como estas teriam que ser ajustadas – que falsas premissas teriam que ser abandonadas ou que condições teriam que ser estipuladas – se tentássemos avançar a partir delas para outras teorias com uma validade mais geral, como a de Newton. Só depois de estarmos na posse da teoria de Newton podemos descobrir se, e em que sentido, as teorias anteriores podem ser suas aproximações. Podemos exprimir este fato resumidamente dizendo que, embora do ponto de vista da teoria de Newton as de Galileu e de Kepler sejam aproximações excelentes a certos resultados newtonianos específicos, não podemos dizer que a teoria de Newton seja, do ponto de vista das outras duas teorias, uma aproximação aos seus resultados. Tudo isto mostra que a lógica, seja ela dedutiva ou indutiva, nunca pode realizar o passo que vai destas teorias à dinâmica de Newton. Só a imaginação pode realizar esse passo. Logo que ele tenha sido realizado, podemos dizer que os resultados de Galileu e de Kepler corroboram a nova teoria.
Aqui, no entanto, não estou tão interessado na impossibilidade da indução como no problema da profundidade e, no que diz respeito a este problema, podemos de fato aprender algo a partir do nosso exemplo. A teoria de Newton unifica a de Galileu e a de Kepler mas, longe de ser uma mera conjunção dessas duas teorias, que desempenham o papel de explicanda em relação à de Newton, corrige-as ao mesmo tempo que as explica. A tarefa explicativa original era a dedução dos resultados anteriores, mas esta tarefa é abandonada, porque não se deduzem os resultados anteriores, deduzindo-se algo melhor no seu lugar: novos resultados que, sob as condições específicas dos velhos resultados, aproximam-se muito deles numericamente ao mesmo tempo em que os corrigem.
Sugiro que, sempre que nas ciências empíricas uma nova teoria com um nível de universalidade mais elevado explica com sucesso uma teoria anterior corrigindo-a, temos um indício seguro de que a nova teoria penetrou mais fundo do que as teorias anteriores.


Autor: Karl Popper
Tradução: Pedro Galvão
Original: Objective Knowledge

terça-feira, novembro 10, 2009

CAMINHOS DA TEORIA DO CONHECIMENTO


CAMINHOS DA TEORIA DO CONHECIMENTO

O entendimento através da história, sobre a compreensão das influências de várias teorias do conhecimento estabelece parâmetros de avaliação, critérios de verdade, objetivação, metodologia e relação sujeito e objeto para os vários modos de conhecimentos diante da crise da razão que se instaurou no século XX e que há de se prolongar neste presente século, através dos desafios da construção de uma ética normativa compatível com as evoluções das descobertas e do conhecimento no campo científico.
Começamos por conceituar o conhecimento: Conhecimento é a relação que se estabelece entre sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer.
Na Grécia Antiga temos várias visões e métodos de conhecimento, Sócrates Estabelecendo seus métodos com a ironia e maiêutica. Platão com a Doxa que é a ciência baseada na Opinião. Aristóteles com a Episteme, a ciência baseada Observação ( Experiência ).
Teoria do Conhecimento na Antigüidade, podemos perceber que os Filósofos gregos deixaram algumas contribuições para a construção da noção de conhecimento: Estabeleceram a diferença entre conhecimento sensível e conhecimento intelectual. Estabeleceram diferença entre aparência e essência. Estabeleceram diferença entre opinião e saber. Estabeleceram regras da lógica pra se chegar à verdade
Na Teoria do Conhecimento na Idade Média, na Patrística temos a tendência da conciliação do pensamento cristão ao pensamento platônico, sendo seu grande expoente Santo Agostinho. Na Escolástica, temos a anexação da Filosofia aristotélica ao pensamento cristão, com o estreitamento da relação Fé e razão, sendo seu grande defensor São Tomás de Aquino. Com o Nominalismo Temos o final do domínio do Pensamento Medieval, com a separação da Filosofia da teologia através do esvaziamento dos conceitos. Sendo Duns Scotto e Guilherme de Oclkam, seu defesor trazendo sua navalha cortando tudo .
Na Teoria do Conhecimento na Idade Moderna surge a primeira Revolução Científica que trouxe várias mudanças para o pensamento, dentre as quais podemos destacar a mudança da visão teocentrista (Deus é o centro do conhecimento), para visão antropocentrista (o homem é o centro do conhecimento). O racionalismo de René Descartes, o Discurso do Método: A máxima do cartesianismo "Cogito ergo sun". O empirismo: John Lock a experiência. David Hume, a Crença. O criticismo kantiano: O conhecimento a priori: Universal e necessário. A herança iluminista: A razão.
Na Teoria do Conhecimento na Idade Contemporânea temos a Crise da Razão. O novo iluminismo de Habermas, razão crítica precisa fazer a crítica dos limites. Estabelecer princípios éticos. Vincular construção a raízes sociais.
A construção do conhecimento fundado sobre o uso crítico da razão, vinculado a princípios éticos e a raízes sociais é tarefa que precisa ser retomada a cada momento, sem jamais ter fim. O assunto é por demais amplo e muito bem discutido por vários filósofos. Nossa pretensão foi apensas de trazer uma reflexão através de um esboço sistemático da história do conhecimento. Deixamos para apreciação através de uma análise analítica e crítica os principais modos de conhecer o mundo e suas formas de abordagens para se chegar ao conhecimento verdadeiro.

Como Modos de Conhecer o Mundo, temos O Mito. A Filosofia. O Senso Comum. A Arte. A Ciência. E cada um possui um critério de verdade. A Fé. A Razão. A Cultura Ética e Moral. A Estética. A Experimentação. Com Objetivo de Dogmatismo, Doutrinamento e Proselitismo. Possuem a Razão Discursiva, busca estabelecer a Tradição Cultural, o Esteticismo a subjetividade do artista e do contemplador da arte. Objetividade de Comprovação de uma determinada tese de modo objetivo


A Metodologia que cada um utiliza é uma prova de uma só intenção: chegar ao conhecimento verdadeiro. A Experiência Pessoal. A Dialética. As crenças silenciosas, Ideologias. O gosto. A Observação. A Relação Sujeito-Obejto, acontece em vários campos: Relação Suprapessoal, onde a Revelação do Sagrado se manifesta (revela) sobrenaturalmente ao profano através do rito (Dramatização do mito, ou seja, da liturgia religiosa). Relação transpessoal onde a palavra diz as coisas. O mundo se manifesta pelos fenômenos e é dizível através do Logos. Relação interpessoal, onde a ideologia estabelecida pelas idéias dominantes e pelos poderes estabelecidos. Relação pessoal, onde a criatividade e a percepção da realidade do autor e a interpretação e sensibilidade do observador. Relação "impessoal", A isenção do cientista diante de sua pesquisa: O mito da neutralidade científica. O que nos deixa muito preocupados, por não sabermos o que realmente conhecemos, ou se conhecemos àquilo que estes meios nos permitem conhecer.

Marcilio Reginaldo

segunda-feira, novembro 09, 2009

CONCEITO DE EMANCIPAÇÃO HUMANA EM MARX



CONCEITO DE EMANCIPAÇÃO HUMANA EM MARX

O problema essencial da filosofia política de Marx em 1843, é o da relação entre a emancipação política do Estado promovida pela revolução burguesa e a emancipação da humana como tal. Na Questão judaica Marx define emancipação enquanto redução do mundo humano ao próprio homem, isto é, enquanto redução dos fundamentos da sociedade em geral às próprias relações humanas, implicando, em particular, no caso do Estado moderno, o traçado dos limites da ação política, opondo-se assim a qualquer forma de tirania, na qual o poder do déspota é limitado apenas por sua própria força, mas também às outras formas clássicas de delimitação que se baseavam em fundamentos transcendentes, religiosos ou não, na medida em que tais limites deviam permanecer no âmbito esboçado pela razão social imanente expressa no direito.
No caso específico da revolução burguesa a emancipação implica uma dupla redução do indivíduo. De um lado cada um é membro da sociedade civil burguesa onde as relações sociais se dão entre indivíduos independentes e egoístas em busca da realização dos seus interesses particulares ao contrário da época feudal na qual as relações davam-se entre indivíduos enquanto membros das suas respectivas classes, baseando-se em privilégios, e de outro lado cada um é, enquanto pessoa moral, cidadão do Estado. No primeiro caso a vida individual encontra-se submetida às estruturas sociais involuntárias, não refletidas, que dizem respeito à produção material, isto é, submetida às relações econômicas, que, como tais não são livremente instituídas, como o direito. Todo o problema consiste em saber quais são os limites do reino do direito ou da liberdade em confronto com as estruturas concretas da sociedade civil; em saber até onde o homem pode estender a autonomia jurídica conquistada pelo Estado. Trata-se de saber qual é o verdadeiro estatuto da separação entre religião e Estado, das liberdades burguesas, a saber, a liberdade de imprensa, extinção dos privilégios políticos das classes, sufrágio universal, direitos universais do homem etc., diante da emancipação da essência humana que supostamente a libertaria dos entraves históricos que impediam sua plena realização no antigo regime.
É o que Marx denomina crítica da emancipação política que lhe permite logo no início de A Questão judaica atribuir a Bruno Bauer o erro de não investigar a relação entre a emancipação política e a emancipação humana. A emancipação política, isto é, a emancipação do Estado burguês, não é o modo radical e isento de contradições da emancipação humana. Anulando a significação política das diferenças sociais, estendendo seus direitos a todos os cidadãos, o Estado burguês mostra-se incapaz de suprimir as premissas materiais da desigualdade: a propriedade privada e toda cultura humana dela derivada como o egoísmo, a concorrência, a pobreza etc. A igualdade política e a idéia de comunidade aí subtendida não se refletem na estrutura efetiva da sociedade fundamentada sobre a desigualdade entre proprietários e não proprietários. Nesse sentido o Estado político acabado, quer dizer, o Estado plenamente emancipado, é, por sua própria essência, a vida genérica do homem, porém oposta à vida real da sociedade civil burguesa na qual cada indivíduo atua como particular, considerando a outros homens como meio, degradando-se a si próprio como meio e convertendo-se em joguete de poderes estranhos.
Por esta via no Estado burguês perante o qual o indivíduo é considerado, de acordo com a verdadeira natureza da sua essência humana, um ser universal, como cidadão, esta essência se encontra apenas imaginária e abstratamente liberta dos empecilhos que impedem sua realização efetiva. A generalidade do Estado burguês, a generalidade do cidadão é apenas abstrata, irreal, imaginária. Ora, para a tradição do pensamento político moderno, notadamente no idealismo alemão ao qual Marx encontra-se intimamente vinculado, o principal problema consiste em determinar as condições de realização através do Estado ou nele próprio, da racionalidade total da vida humana. Em outros termos a vida política deve espelhar a comunidade originária constitutiva da idéia de humanidade enquanto reveladora da verdadeira natureza essencial do homem, natureza que não apenas era contrariada pela antiga sociedade feudal baseada em privilégios e castas, como também parece ainda não realizada pelas relações que os indivíduos estabelecem entre si, na sociedade civil, mediatizadas pelas determinações econômicas do capital: propriedade privada, trabalho assalariado, produção de mercadorias, concorrência, crises de mercado, pobreza, etc.. O objeto mais essencial dos sentidos humanos é o próprio homem. Unicamente no olhar do homem sobre o homem se acende a luz da consciência e do entendimento.
Convém, portanto explicitar a que conceito de essência humana que Marx se refere ao criticar a emancipação política do Estado burguês, explicitando, ao mesmo tempo os fundamentos ontológicos segundo os quais esta essência será concebida. A ontologia presente na elaboração marxiana da essência humana é a ontologia de Hegel, a saber, do ser universal, mas tal como Feuerbach a interpreta mediante o conceito de gênero ou espécie que passa doravante a assumir o posto de novo e verdadeiro universal concreto. De acordo com este ponto de vista o gênero humano consiste no conjunto dos predicados que definem, para cada indivíduo, as potencialidades essenciais que sua existência pode realizar parcialmente. O homem, como tal, nada mais é do que a idéia de um indivíduo cuja vida desenvolvesse em si a totalidade de tudo que a essência genérica contém a título de possibilidade. Não há dúvida que a emancipação política representa um grande progresso. Embora não seja a última etapa da emancipação humana em geral, ela se caracteriza como a derradeira etapa da emancipação humana dentro do contexto do mundo atual. É óbvio que nos referimos à emancipação real, à emancipação prática.
Evidentemente o homem não existe em parte nenhuma. Só os indivíduos têm existência, vida e realidade. Essa observação se aplica a toda relação entre gênero e indivíduo. Mas no que tange aos indivíduos humanos ninguém realiza em sua vida a totalidade das potencialidades do seu gênero, conhecendo todas as coisas que o homem pode conhecer ou fazendo tudo o que a humanidade considerada em seu conjunto pode fazer. Cada vida individual é limitada quando contraposta às outras existências e à totalidade das potencialidades inerentes ao gênero humano como tal. Cada indivíduo não realiza em sua existência senão uma parcela de tudo aquilo que a humanidade pode realizar. De acordo com Marx e com a filosofia de Feuerbach, onde Marx, a razão dessa limitação não reside, inicialmente, nas estruturas práticas da vida social, a saber, no conjunto das relações econômicas que os indivíduos estabelecem entre si enquanto produtores e consumidores, proprietários e trabalhadores, homens e mulheres. Não é por ser proletário, por exemplo, que a pobreza da situação econômica exclui do indivíduo a possibilidade de desenvolver a cultura, inteligência, sensibilidade estética etc. Essa limitação existe de fato, mas encobre a finitude essencial inerente ao caráter genérico do próprio ser da vida humana. A finitude da existência individual e a oposição do particular ao universal que a atravessa, são determinações metafísicas relativas à natureza genérica da essência humana.
Emancipação política é a atividade prática através da qual os indivíduos tentam superar os antagonismos da sociedade civil a fim de formarem uma comunidade orgânica de interesses harmoniosos fundada na razão. Por esta via cada indivíduo só participaria efetivamente da sua essência humana enquanto membro do Estado. Também só através do Estado seríamos livres, liberados do sistema das necessidades e dos interesses e igualados numa mesma obediência à lei. Essa última, na medida em que constrange os indivíduos identicamente, em que todos são iguais perante ela, já faz abstração de todas as diferenças, de classe, de profissão, de interesse particular, de riqueza, de raça etc., abolindo todo privilégio social ou individual. Assim fazendo a lei nos situa diante da própria essência comum e universal do homem interpelando os indivíduos enquanto seres de razão dotados de liberdade e de responsabilidade pelos seus atos, a partir da vontade universal encarnada pelo Estado, seu guardião. Diante do Estado, situados na mira do seu ponto de vista universal, sob sua luz, os indivíduos seriam o que são essencialmente: homens.
Emancipação humana é a recondução do mundo humano, das relações, ao próprio homem. A emancipação política é a redução do homem, de um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente e, de outro, a cidadão do Estado, a pessoa moral. Somente quando o homem individual real recupera em si o cidadão abstrato e se converte como homem individual, em ser genérico, em seu trabalho individual e em suas relações individuais; somente quando o homem tenha reconhecido e organizado suas forcas próprias como forças sociais e quando, portanto, já não separa de si a força social sob a forma de força política, somente então se processa a emancipação humana.
Marx encontra-se de acordo com a idéia de que a essência humana é universal. Porém, se para Hegel a realização dessa essência reside, não só na estrutura política do Estado como tal, mas na sua emancipação, em sua autonomia e precedência em relação à sociedade civil, para Marx ela reside na sociedade como tal. Não é na relação dos indivíduos com o Estado, mas na relação e na interdependência dos indivíduos entre si, na vida social cotidiana e efetiva, que deve ser encontrada a verdadeira realização da essência genérica do homem.
Marx diz que o indivíduo é o ser social. O significado desta identificação clarifica imediatamente ao afirmar que mesmo quando a manifestação da vida do indivíduo não aparece imediatamente sob a forma de uma manifestação coletiva, efetuada com os outros e ao mesmo tempo que eles, ela é ainda uma afirmação da vida social. Assim a manifestação social da vida individual não é necessária nem primeiramente uma existência coletiva. Ao contrário, a manifestação primeira da determinação social da vida individual reside na relação imanente desta vida à essência universal, relação sem a qual não haveria nenhuma intersubjetividade e, portanto, nenhuma vida coletiva possível. Trata-se de passagem necessária para uma sociedade sem propriedade privada e, portanto, sem classes, sem divisão do trabalho, sem alienação e sobre tudo, sem estado. Para Marx, o comunismo é “o retorno completo e consciente do homem a si mesmo, como homem social, isto é, como homem humano”.

Marcilio Reginaldo       



REFERÊNCIAS:
REALE, G. ANTIUSSERI, D. História da Filosofia, vol. 5. Do romantismo ao Empiriocriticismo. São Paulo: Paulus, 2005.
MARX, K. A Questão Judaica. São Paulo: Moraes, 1991.

domingo, novembro 08, 2009

Melancolia Filosófica

David Hume
Melancolia Filosófica  

Mas antes de me lançar nessas imensas profundezas da filosofia que se apresentam diante de mim, vejo-me inclinado a deter-me um instante em minha presente situação, e a avaliar essa viagem a que me propus fazer e que sem dúvida requer o máximo esforço e arte para ser concluída com sucesso. Sinto-me como um homem que, tendo encalhado em muitos recifes e tendo escapado com grande dificuldade de um naufrágio em um pequeno estreito, tem ainda a temeridade de retornar ao mar no mesmo navio avariado e castigado pelo mau tempo, e ainda carrega a sua ambição tão longe a ponto de percorrer o globo nessas circunstâncias desvantajosas. Minha memória dos erros e da perplexidade do passado tornaram-me desconfiado do futuro. A condição debilitada, a fraqueza e a desordem das faculdades que devo utilizar em minhas investigações aumentam a minha apreensão. E a possibilidade de emendar e corrigir tais faculdades leva-me quase ao desespero, e quase a preferir perecer nas pedras em que me encontro no momento, do que aventurar-me na imensidão do alto mar. Esta súbita visão de perigo em enche de melancolia; e como ocorre com essa paixão, dentre todas as demais, perder-se em si mesma, eu não posso deixar de alimentar o meu desespero com todas essas reflexões desanimadoras que o presente assunto me oferece com tamanha abundância. Sinto-me assustado e confuso com esta situação desesperante em que me encontro em minha filosofia, e imagino a mim mesmo como um monstro estranho e grosseiro que, não sendo capaz de se misturar e se unir em sociedade, foi expulso do convívio humano, totalmente abandonado e deixado inconsolável. De bom grado misturar-me-ia à multidão em busca de proteção e cordialidade, mas sendo possuidor de tal deformidade, não posso ousar misturar-me. Convido a outros que se unam a mim com o objetivo de constituir uma sociedade à parte, mas ninguém me atende. Todos se opõem à distância e temem a tormenta que me golpeia de todos os lados. Expus-me à inimizade de todos os metafísicos, lógicos, matemáticos e mesmo teólogos; devo alegrar-me com os insultos que tenho de suportar? Declarei a minha desaprovação de seus sistemas; devo surpreender-me por eles expressarem seu ódio de minha pessoa? Quando contemplo todas as disputas, contradições, calúnia e difamação; quando dirijo a minha atenção para o meu interior, não encontro nada senão dúvida e ignorância. Todo o mundo me opõe e me contradiz; tal é a debilidade que experimento que todas as minhas opiniões se desfazem e caem por si mesmas quando não sustentadas pela aprovação dos outros. Cada passo que dou com vacilação e cada nova reflexão me faz temer um erro ou um absurdo em meu raciocínio. Ora, com que confiança posso aventurar-me a um empreendimento tão audaz quando, além das infinitas debilidades que me são peculiares, descubro tantas outras que são comuns à natureza humana? Posso estar seguro de que ao abandonar todas as opiniões estabelecidas chegarei à verdade? E por qual critério devo distingui-la se a fortuna guia por fim os meus passos? Após o mais preciso e exato dos meus raciocínios, não posso dar uma razão do porquê deva eu assentir a ele e não experimento mais do que uma forte inclinação a considerar os objetos fortemente do ponto de vista a partir do qual se me apresentam.


(...)


Nada é mais perigoso à razão do que os vôos da imaginação... Mas, por um lado, se a consideração dessas instâncias me leva a rejeitar todas as sugestões triviais da imaginação e a aderir ao entendimento...; mesma essa rejeição, se executada com sucesso, seria perigosa... . ... o entendimento, quando atua sozinho, subverte-se a si mesmo inteiramente, e não deixa o menor grau de evidência em qualquer proposição, seja em filosofia, seja na vida comum... Será que temos, então, de estabelecer como máxima geral que nenhum raciocínio elaborado ou refinado deva ser aceito?... Por tal meio eliminamos totalmente toda ciência e toda filosofia... Se aceitamos tal princípio..., chegamos aos maiores absurdos. Se o recusamos em favor desses raciocínios, subvertemos inteiramente o entendimento humano. Reflexões muito refinadas têm pouco ou nenhuma influência em nós; e no entanto não podemos estabelecer como regra que elas não tenham qualquer influência...


Ocorre que, felizmente, uma vez que a razão é incapaz de dissipar essas nuvens, a própria natureza basta para tal propósito, e me cura dessa melancolia e desse delírio filosófico, seja relaxando essa inclinação da mente, seja por alguma... impressão vivaz dos sentidos, que ofusca todas as quimeras. Eu janto, jogo gamão, converso e me divirto com meus amigos; e quando, após três ou quatro horas de divertimento, eu retorno a essas especulações, elas parecem tão frias... e ridículas...


Assim, vejo-me absoluta e necessariamente inclinado a viver, e a conversar, e a agir como as outras pessoas nos seus afazeres diários... Estou pronto a lançar todos os meus livros e papéis ao fogo, e a jamais renunciar aos prazeres da vida por causa do raciocínio e da filosofia.


(...)


Quando então me canso de tanto divertimento e companhia, e tendo sido levado à meditar em meu quarto, ou em um passeio solitário ao longo do rio, sinto a minha mente completamente absorta em si mesma, e me vejo naturalmente inclinado a conduzir a minha visão a todos esses assuntos sobre os quais encontrei tanta disputa no curso da minha leitura e conversação. Não posso deixar de ter curiosidade acerca dos princípios morais do bem e do mal, a natureza e o fundamento dos governos, e a causa dessas tantas paixões e inclinações que atuam em mim e me governam. Me sinto desconfortável em pensar que aprovo um objeto e desaprovo outro; que chamo algo de belo e algo de feio; que decido a respeito da verdade e da falsidade... sem saber com base em quais princípios eu procedo... Sinto uma ambição crescente em mim de contribuir para a instrução da humanidade... Esses sentimentos surgem naturalmente em minha presente disposição... Sinto que deva ser um perdedor no que concerne ao prazer; e essa é a origem da minha filosofia.


(excertos do Treatise of Human Nature de David Hume, Conclusão do Livro I)


quinta-feira, novembro 05, 2009

HISTORIA DA FILOSOFIA ANTIGA



A Civilização Grega

Há mais ou menos 1.500 anos a.C. desenvolveu-se na Península Balcânica a Civilização Grega a mais importante da Antigüidade e também a mais influente de toda a história. Arquitetos Gregos criaram estilos que são copiados até hoje. Seus pensadores fizeram indagações sobre a natureza que continuam a serem discutidas nos dias atuais. O teatro também nasceu na Grécia, onde as primeiras peças eram representadas em anfiteatros abertos. Foi em Atenas, uma Cidade-Estado*, que se fundou a primeira democracia, isto é, o governo do povo - embora houvessem escravos, que por não serem cidadãos não votavam -. A sociedade grega atravessou diversas fases, atingindo seu apogeu entre os anos 600 e 300 a.C., com grande florescimento das artes e da cultura. A Grécia foi unificada por Felipe da Macedônia. Seu filho, Alexandre O Grande, disseminou a cultura grega pelo Oriente Médio e pelo norte da África.


Descrição do país


Na região sudoeste da Europa, formando a extremidade meridional da península balcânica, situa-se a Grécia, país de tanta fama e grandeza nas páginas das grandes civilizações.


O país compreende duas partes: a continental e a insular. Aquela (conforme se pode observar em qualquer mapa) caracteriza-se pelo número de regiões: a Tessália e o Épiro ao norte; a Etólia próxima a Delfos, a Beócia, junto a Tebas e a Ática triangular em que se situa Atenas. Mais para o sul, no Peloponeso separado do restante do país pelo istmo de Corinto, temos a Élida, a Arcádia, a Lacônia e Messênia. A parte insular compreende centenas de ilhas constantemente citadas na história, na literatura e nas artes (Creta, Milo, Paros, Samos, Lesbos são algumas das que tem maior celebridade).


O clima da Grécia assemelha-se ao dos países mediterrâneos: quente e seco no verão, frio e úmido no inverno.


O nome de Grécia foi desconhecidos por seus antigos habitantes, Estes se chamavam Helenos e ao país denominavam de Hélade. Foram os romanos, os criadores daquele termo derivado de Graea, povoação do Épiro, de onde vieram os primeiros colonos helenos da Itália.


O papel do mar


O mar desempenhou para os gregos uma função de alta importância; dilatou-lhes excepcionalmente o horizonte. É assim que, navegando de ilha em ilha (era o tempo em que a navegação não ousava perder de vista o horizonte terrestre). os gregos chegaram: a) pelo mar Egeu ao litoral da Ásia Menor, onde fundaram colônias e dominaram localidades; b) pelo mar Jônico à Itália Meridional e à Sicília, onde fundaram a Magna Grécia.


O mundo grego compunha-se, portanto, graças ao mar, de três partes: a Grécia propriamente dita, a Grécia da Ásia Menor ( o outro lado do mar Egeu, diziam os gregos) e a Magna Grécia.


A formação do povo


Os próprios gregos ignoravam a sua origem e procuravam explica-la através de lendas maravilhosas (os mitos). Na verdade, porém, a Grécia foi habitada, em tempos, muito distantes, por povos não gregos, de origem mediterrânea a que se dá o nome de pelasgos.


Mais tarde, o país foi invadido por povos arianos - Aqueus e dórios principalmente - os quais acabaram por se mesclar e deram origem aos helenos.


A religião dos gregos


Os gregos tal como os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam muitos deuses. Os mais poderoso era Zeus, deus do céu e do fogo. Hera, sua esposa protegia a vida familiar. Seguiam-se entre outros, Apolo, o deus do sol, Ártemis, a deusa da Lua, Hermes, deus dos oradores e comerciantes, Ares, deus da guerra e Atena deusa da sabedoria.


O culto e os heróis


O culto aos deuses comportava entre os gregos o sacrifício de animais e festas. Algumas festas eram particulares a determinadas cidades, enquanto outras eram comuns a toda Grécia. Entre as primeiras, cita-se a procissão de Palas-Atena, realizada em Atenas em honra da deusas que protegia a cidade. Das segundas, cita-se a de Olímpia, onde compareciam gregos de todos os lugares para participar ou assistir os Jogos Olímpicos.


Ademais, os gregos reverenciavam os heróis (homens que haviam realizado feitos extraordinários e que uma vez mortos se aviam transformados em deuses). O mais famoso dos heróis gregos foi Hércules.


Os monumentos Gregos


Os mais belos monumentos arquitetônicos da Grécia antiga constituíam-se de templos dedicados a vários deuses. Cada cidade-estado tinha orgulho de seus templos. Nenhuma, porém, possuiu templos tão grandiosos e tão belos como Atenas. Os templos atenienses agrupavam-se num planalto rochoso, isto é, na acrópole (parte alta da cidade).


O principal era o Partenon, templo dedicado a Palas-Atena. O arquiteto que construiu este templo foi Fídias que era igualmente um grande escultor. Suas obras principais de estatuária consistiram na estátua de Palas-Atena, junto ao Partenon, e na de Zeus, erguida na cidade de Olímpia.


As letras Gregas


Os maiores escritores da Grécia viveram entre o V e o IV séculos. Entre outros citam-se Ésquilo, Sófocles e Euripedes, autores teatrais que se dedicaram a celebração dos episódios mais gloriosos da história do país. Aristófanes escritor de comédias e Demostenes, também famoso orador se integram a citação resumida que aqui faço.


A tais nomes cumpre ainda juntar os de Píndaro (famoso poeta), Heródoto e Túcides (grandes historiadores) e Tales de Mileto, Pitágoras, Sócrates e Platão (grandes pensadores).


Filosofia Grega


A filosofia grega dividi-se em antes e depois de Sócrates. Foram pré-socráticos Tales de Mileto (fim do século VII - início do VI a.C.); Pitágoras (582 - 497 a.C.); Demócrito (460 - 370 a.C.); Heráclito (535 - 475 a.C.); e Parmênides (540 - ? a.C.). No tempo de Sócrates predominava a escola dos sofista que se serviam de reflexão para atingir fins imediatos, ainda que por falso argumentos. O maior dos sofista foi Pitágoras.


Sócrates (470 - 399 a.C.) - Fundou a Filosofia Humanista. Criou a maiêutica ("parto das idéias"), método de reflexão que consiste em multiplicar as perguntas para obter, a partir da indução de casos particulares, um conceito geral do objetivo. Para Sócrates, a virtude era uma ciência que se podia aprender. Uma voz interior, daimon, indicaria o caminho do bem. Irônico, hábil em confundir o interlocutor, cercado de discípulos extravagantes, como Alcebíades, atraiu muitos inimigos. Acusado de renegar os deuses e corromper a juventude, Sócrates foi condenado a beber cicuta (tipo um veneno), o que fez com bravura e serenidade.


Platão (427 - 347 a.C.) - Principal discípulo de Sócrates, fundou a Academia de Atenas. Segundo sua teoria, baseadas nas idéias (formas essenciais), o mundo real transcende o mundo das aparências, o qual nada mais é do que uma derivação das idéias matrizes. Em suas obras políticas, destaca como virtudes essenciais a bravura, a serenidade e a justiça. Obras importantes: Apologia de Sócrates**, Críton, O Banquete, Fédon, Fedro e A República.


Aristóteles (384 - 322 a. C.) - Considerado por muitos como o maior filósofo de todos os tempos. Abarcou todos os conhecimentos de seu tempo - Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política, Retórica e Poética. Sua obra foi editada pela primeira vez no séc. I a.C. por Andrônico de Rodes. Partindo de Sócrates e Platão, Aristóteles sistematizou os princípios da Lógica, formando uma ciência que ele chamou de Analítica. Sua Metafísica estuda o "ser enquanto ser"e investiga os "primeiros princípios" e as "causas primeiras do ser". Em sua Teologia, Aristóteles procura demonstrar racionalmente a existência de Deus, o "primeiro motor móvel", o "não-vir-a-ser", o "ato puro".


Geovani Realli / D. Antisseri


Marcilio Reginaldo