sábado, maio 07, 2011

Eternamente Mãe



Eternamente Mãe
♥♥♥

MÃE...
que na presença constante me ensinou
na pureza do seu coração a vislumbrar caminhos...
MÃE...
dos primeiros passos, das primeiras palavras...
MÃE...
do amor sem dimensão, de cada momento,
dos atos de cada capítulo de minha vida não ensaiados,
mas vividos em cada emoção...
MÃE...
da conversa no quintal,
do acalanto do meu sono aquecido de amor,
aninhada em seu coração...
MÃE ...
do abraço, do beijo que levo na lembrança...
MÃE...
é você que me inspira a caminhar...
MÃE...
a presença de cada passo que o tempo não apaga:
por mais longo e escuro que seja o caminho,
haverá sempre um horizonte...
MÃE...
Mulher a quem devemos a vida,
que merece o nosso respeito, nossa gratidão e nosso afeto.

Autor Desconhecido

quarta-feira, maio 04, 2011

CONSCIENTIZAR OU SENSIBILIZAR

            

CONSCIENTIZAR         OU                  SENSIBILIZAR 



Debater, discutir, explicar, esclarecer e informar parecem noções cada vez mais fora de moda. O que agora parece ser mais importante é: sensibilizar. Um pouco por todo o lado, e não apenas nas escolas, se multiplicam as acções de sensibilização. São acções de sensibilização ambiental, programas de sensibilização para os perigos do consumo de drogas, sessões de sensibilização contra o racismo, e assim por diante. Vejo quase todos os dias passar por mim viaturas da empresa municipal de águas e resíduos da cidade onde vivo com o slogan “Educar e sensibilizar.” Nas conversas televisivas ouvimos frequentemente dizer que é necessário sensibilizar as pessoas para fazer mais exercício físico, para participar mais activamente na vida pública, para a necessidade de poupar, para a violência doméstica, etc. Até nas planificações das actividades lectivas das mais variadas disciplinas a sensibilização aparece. Fica-se com a ideia de que quando se pretende promover ou inibir certas atitudes, opiniões ou comportamentos nas pessoas, o que há a fazer é, sobretudo, sensibilizá-las para isso. A sensibilização parece ser a grande ideia pedagógica dos nossos dias. Defendo que esta ideia é profundamente errada e pedagogicamente desastrosa: educar não é, nem deve ser, sensibilizar.
Vale a pensar no que significa “sensibilizar.” Como a própria palavra indica, sensibilizar é levar as pessoas a sentir o que antes disso não sentiam. Ou também levar as pessoas a sentir as coisas de um modo diferente. É, no fundo, intervir nas emoções ou sentimentos das pessoas. Isto torna clara a diferença entre, por um lado, a sensibilização e, por outro, a informação e a discussão racional. Ao contrário do que se passa com a sensibilização, nem o acto de informar nem a discussão racional se apoiam na emoção.
A sensibilização aproxima-se, assim, da publicidade e da propaganda. Também estas assentam numa espécie de apelo emocional, procurando induzir certos comportamentos e atitudes: consumir um dado produto ou aderir a uma dada ideia. Sensibilizar as pessoas não é, pois, o mesmo que facultar-lhes informação ou esclarecê-las. Nesse sentido, é irrelevante que a adesão se apoie numa avaliação crítica e racional do que está em causa. Tudo o que se procura é que a adesão seja efectiva. Aliás, o convite a uma apreciação crítica pode mesmo ser prejudicial. É o que, de resto, se verifica a maior parte das vezes nas chamadas “acções de sensibilização,” que consistem normalmente na produção e repetição de slogans e spots publicitários com imagens e música atraentes (no caso de se estar a promover um dado comportamento) ou com imagens e música perturbadoras (no caso de se estar a censurar um dado comportamento), mas também de actividades tão esclarecedoras como fazer desenhos, cantar em coro palavras bonitas, organizar espectáculos e vigílias, e outras iniciativas do género.
O problema é que nada disso tem qualquer valor formativo, pois não só não promove a autonomia das pessoas, como tende a atrofiá-la, reprimindo a sua capacidade crítica. É confundir publicidade e propaganda com pedagogia. Recorrer à publicidade como ferramenta pedagógica é um contra-senso, pois não se formam pessoas autónomas e informadas com manipulação emocional, mas sim com informação rigorosa, esclarecimento técnico e debate de ideias. Ora, a publicidade não se destina a formar pessoas mas a vender produtos, sejam eles sabonetes, telemóveis, livros, ideias ou comportamentos e atitudes. A pedagogia claramente não é nem deve ser uma actividade publicitária ou propagandística.
Poder-se-á argumentar que nem sempre as pessoas estão atentas aos problemas e que, por vezes, é preciso encontrar maneira de as fazer olhar para o sítio certo. Sensibilizá-las seria, então, uma maneira de despertar as pessoas para os problemas, obrigando-as a confrontar-se com eles. Neste caso, o discurso publicitário poderia ensinar-nos a levar as pessoas a ver o que não queriam ou não conseguiam ver e isso seria apenas um primeiro passo sem o qual não poderia haver, posteriormente, verdadeiro esclarecimento. Seria, afinal, uma boa maneira de pôr a eficácia das ferramentas publicitárias ao serviço da pedagogia, em vez de substituir uma coisa pela outra.
Mas isto assenta numa incompreensão da natureza da pedagogia. A pedagogia não é o processo pelo qual se leva alguém a aderir a determinadas ideias ou a adoptar determinadas atitudes, por muito boas que nos pareçam. A pedagogia é o processo pelo qual se ajuda alguém a encontrar, de forma esclarecida, o seu caminho e a formar as suas próprias ideias, ainda que estas possam ser partilhadas por outros. Assim, o verdadeiro pedagogo não é aquele que, por exemplo, procura convencer o aprendiz das vantagens da democracia, mas aquele que convida o aprendiz a discutir de forma racional as vantagens e desvantagens da democracia, de modo a tirar e justificar as suas próprias conclusões. Pôr os jovens a papaguear slogans que nunca avaliaram criticamente pode ser muito divertido, mas não é certamente formativo e é duvidoso que seja eficaz a longo prazo. Tive um bom exemplo disso há alguns anos, quando foi pedido às escolas secundárias de todo o país que dedicassem um dia de sensibilização contra o uso de drogas. Foi sugerido a cada professor que usasse quinze minutos das suas aulas para falar do assunto e que, no fim, estes escolhessem a melhor frase para escrever e afixar na porta da sala de aula. Alguns alunos, já devidamente sensibilizados, ficaram algo indignados quando levantei reservas à frase escolhida: “A droga não dá prazer.” Expliquei que talvez fosse melhor escolher uma frase verdadeira. Perante a surpresa quase geral, acabei por perguntar por que razão haveriam as pessoas de se drogar, se não retirassem qualquer prazer disso. A resposta foi um silêncio embaraçoso, a que nenhuma sensibilização ajudou a dar resposta. Bom, sempre se aproveitou o impasse para começar, então, a pensar por que razão consumir drogas é uma má ideia, apesar de até poderem dar prazer.
O leitor mais renitente poderá conceder que as acções de sensibilização não passam de uma forma paternalista de ver as coisas e que, portanto, não respeitam a autonomia das pessoas. Mas pode, ainda assim, insistir que o paternalismo nem sempre é inadequado, sendo até a única maneira de educar jovens ainda imaturos. Se o paternalismo fosse sempre mau, os pais estariam a fazer mal às suas crianças quando procuram induzir nelas certas ideias ou atitudes. Ora, isso parece descabido: os pais não estão sempre a fazer-lhes mal ao agir desse modo; logo, o paternalismo não é sempre mau, e a sensibilização é aceitável.
É verdade que nem todo o paternalismo é injustificado e o caso apontado mostra-o. Mas esse paternalismo assenta na legitimidade conferida pelo amor e protecção paternais. E só nisso. De resto, mesmo as crianças têm muito a ganhar se as coisas lhes forem sendo paulatinamente explicadas em vez de lhes serem docemente — por vezes, duramente — impostas.
Frequentemente se apontam defeitos ao período revolucionário vivido em Portugal imediatamente após o 25 de Abril. Mas há que reconhecer que, entretanto, também perdemos coisas boas desse tempo. Ao menos não estávamos constantemente expostos a tanta acção de sensibilização. Em vez disso, havia muitas sessões públicas de esclarecimento e de debate aberto, como então eram designadas. Pode-se dizer que é só uma questão de palavras. Ainda assim, parece que, nem que seja nas palavras, havia bastante mais respeito pela autonomia das pessoas e nos tratávamos mutuamente como pessoas crescidinhas.

Aires Almeida