quinta-feira, novembro 26, 2009

O Inconsciente



Sobretudo na psicanálise que se associa propriamente a Freud, termo empregado para se referir a processos psíquicos eficazes, porém, despercebidos. A suposição desse tipo de processo define a psicologia em sua profundidade. Os antecedentes da suposição dos acontecimentos e energias psíquicas inconscientes, ou mentais, passam pela medicina arcaica sobre a teoria da reminiscência (Anamnesis) de Platão, as práticas psicoterapêuticas da filosofia antiga, as idéias acerca da obsessão na baixa Idade Média e nos primórdios da Modernidade, a doutrina das percepções invisíveis na teoria das mônadas e na teoria do conhecimento de Leibniz, até a Psiquiatria dinâmica da segunda metade do sec. XVIII (Gassner, Mesmer). Carus introduziu em 1846 o conceito de inconsciente na Filosofia. Para ele - ligando os conceitos românticos, especialmente na filosofia natural e Medicina -, a vida mental humana é essencialmente determinada por um inconsciente ativo e um inativo. Hartmann - ligando Schelling e Schopenhauer - reúne igualmente um conceito de inconsciente cosmológico-filosófico-natural (inconsciente absoluto) com o conceito de um inconsciente psíquico (inconsciente relativo). Ele considerou o processo cósmico como uma evolução da consciência do inconsciente pensado metafisicamente; o inconsciente psíquico age na consciência segundo leis naturais. No princípio filosófico proposto por Lipps, o 'inconsciente' é o dado psíquico genuinamente real. Lipps distinguiu o inconsciente ativo do inativo, este último sem qualquer centralização do ego. Ele introduz a dinâmica dos processos inconscientes e distingue as excitações mentais inconscientes - sua natureza inteiramente desconhecida -, das representações psíquicas inerentes ao consciente. Seu discípulo Geiger mostrou, a partir de uma perspectiva fenomenológica, que o desejo, enquanto fenômeno global em si já está indicado na realidade imanente da instância inconsciente. Disposições da memória e outras construções psíquicas, segundo Geiger, já estão sem dúvida centralizadas no ego, embora a princípio inativas.
A teoria freudiana do inconsciente reúne um interesse psicológico-prático e um epistemológico-metapsicológico. A memória, as recordações, as lacunas na vida do consciente, os atos falhos, as piadas, os sonhos e as experiências com hipnose deram ocasião à suposição de uma dimensão inconsciente e pré-consciente da vida psíquica. Na medida em que se reduz geneticamente às repressões da tenra infância e à memória infantil dos conteúdos da consciência de natureza eminentemente sexual, este inconsciente é responsável pelo surgimento das doenças neuróticas. No processo psicanalítico (anamnese, resistência, transferência, etc.), através do emprego de determinadas técnicas e através do aproveitamento de acontecimentos que sempre se repetem, tenta-se obter acesso a representações submetidas ao deslocamento e à condensação. Tenta-se também recordar tais representações com a energia psíquica colocada, a fim de remover, desse modo, o sintoma neurótico. Com sua metapsicologia, Freud reúne, além do objetivo terapêutico, o interesse de estabelecer a psicanálise como ciência. Ele distinguiu topicamente as instâncias psíquicas do inconsciente, do pré-consciente e do consciente; então, ele distinguiu as do id, do ego consciente e do superego que congrega as representações sociais. Ela recebe em sua concorrência dinâmica uma sobre a outra e faz o balanço energético a respeito daqueles processos psíquicos que se encontram sob o domínio do princípio do prazer e do desprazer (posteriormente também a pulsão da morte). As suposições metapsicológicas constituir-se-ão como hipóteses científicas que têm de se sujeitar à revisão crítica. Freud defendeu continuamente a tese de que a psicologia é uma ciência natural e que, conseqüentemente, a psiqué é regulada por um inconsciente eficaz somático e regular, acerca do qual é vedado todo conhecimento. - Freud empregou sua teoria do inconsciente também em sua teoria cultural, provavelmente influenciado pela doutrina de Jung sobre o inconsciente coletivo hereditário (arquétipo).

In Mittelstraß, J. (org.)(1996): Enzyklopädie Philosophie und Wissenschaftstheorie, Stuttgart: Verlag J. B. Metzler, vol. 4, pgs. 386-387 (tradução de Marco Antonio Franciotti).

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