segunda-feira, outubro 26, 2009

TOLERANCIA - Parte Final

No sentido da ética, virtude é o que faz com que um sujeito aja de forma a fazer o bem para si e para os outros. Platão considerava a virtude como uma qualidade que o indivíduo traz consigo e que, portanto, não pode ser ensinada. Aristóteles pensa o contrário, ou seja, ações boas realizadas e repetidas pelo sujeito, forma o hábito (gr.: areté = virtude) de ser bom. Ela é a medida justa entre dois extremos, um por excesso e outro por falta. A partir da modernidade, se entende que a virtude é a disposição moral para o bem, ou “a força de resolução que o homem revela na realização de seu dever” (Kant). São virtudes: a justiça, a moderação, a prudência, a coragem, a tolerância, a generosidade, a humildade, a fidelidade, a polidez, etc.



É fato que, aprendemos hábitos, conhecemos coisas, refletimos sobre idéias e teorias, mas nossa educação não ensina sobre como devemos nos relacionar com os outros. No fundo, tendemos a ver o outro como um inferno (Sartre). O problema existencial do ser humano é conviver com o que é tolerável em relação ao outro. Fica a cargo da ambiência cultural e do desenvolvimento psíquico, aprendermos a superar nossa onipotência narcísica infantil, que abriria caminho para um radical e efetivo "exercício da tolerância", ou seja, aceitar a conviver com o outro como ele é e pensa.


Sabedoria (lat. Sagesse), não é apenas a prudência, mas “um perfeito conhecimento de tudo o que os homens podem saber". Inclui a humildade socrática, a disposição para o saber integral, o bom-senso e a arte de bem viver a vida. Diferente da ciência, a sabedoria não é para ser acumulada, mas para ser esquecida ao ser testada na prática da vida. O "velho sábio" chinês Lao Tsé, dizia que "sabedoria é esquecer saberes".

Ou como dizia Sócrates, “a única coisa que sabia é que nada sabia”. O lugar do homem de sabedoria é o da humildade. Nesse sentido, a “sabedoria” se opõe aos “conhecimentos” (ou ”saberes”) fragmentados das especialidades científicas. O cientista (expert), pode ser um sujeito cheio de conhecimentos e, ao mesmo tempo, ser cego ao geral e inábil na prática cotidiana. Vive, por assim dizer, na contramão da sabedoria. “A sabedoria é desprovida de paixão, ao contrário da religião que é cheia de cor” (Wittgenstein).


O princípio da Sabedoria é a capacidade do ser humano de unir partes ao todo, integrando-as na vida prática. No campo das ciências, o projeto inter e transdisciplinar parece sustentarem tal meta. Edgard Morin declara que o homem moderno aprendeu a fazer ciência, separando excessivamente as disciplinas, mas ainda não aprendeu a juntá-las. Unir esses conhecimentos, num todo teórico, complexo e prático diminuiria não só a alienação, o dogmatismo, a arrogância daqueles que detém o saber como um poder, mas se ampliaria o tratamento conceitual e prático sobre as coisas humanas e do mundo.


Marcilio Reginaldo

COMTE-SPONVILLE. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Ed. M. Fontes. 2003







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